Não é segredo pra ninguém que a política, no Brasil, anda muito mal. O mesmo vale para questões sociais, tal como desigualdade social, violência, fome... Mas já passamos por tempos piores. Não acredita? Em 31 de março de 1964 instaurou-se a Ditadura Militar no Brasil, e com ela veio o progresso e... a repressão a qualquer opositor? Isso mesmo, foi um período político e social no Brasil deveras paradoxal: de um lado a economia, que ia muito bem, obrigado, e do outro os 'comunistas subversivos' ou, como deveriam ser conhecidos, os corajosos heróis que arriscaram suas vidas em nome da liberdade de pensamento. Quando o Presidente da República foi deposto pelo exército, jovens saíram às ruas em nome da Democracia.
Mas onde entram os músicos nisso? Eles serviram de catalizadores para os movimentos estudantis. E passaram por maus bocados por causa de suas músicas: Gilberto Gil e Caetano Veloso foram exilados, Chico Buarque fugiu do país por ser ameaçado pelo Estado, e diz-se que Geraldo Vandré foi torturado.
Mas para que sofrer tanto? Podiam muito bem ter evitado tudo isso contentando-se com o lucro proveniente de músicas bobinhas e inofensivas. Mas não, lutaram, e ganharam. Cumpriram seu papel de abrir os olhos da população. Músicos preocupados, ouvintes conscientes.
O problema é que o inverso também é válido: artistas desinteressados, fãs cegos. Cegos e impotentes, que não conseguem enxergar um palmo à sua frente, que não identificariam um problema no meio em que vivem nem se batesse em suas caras. Esse efeito entorpercedor é causado pelos atuais músicos que lideram as paradas, que por sua vez são controlados pela mídia. De que interessa a Usher, por exemplo, criticar a situação de marginalização de grande parte da população negra nos EUA - condição pela qual ele mesmo já passou - se seu próprio lucro está garantido enquanto criar músicas vazias? Pessoas cada vez mais apolíticas vêm subindo no conceito da população por intermédio de empresas, e isso torna o povo mais impassível ao que acontece à sua volta, incluindo o que o afeta.
Claro que você pode vir me dizer que, na história da arte, sempre houve aqueles que somente visavam o lucro. E vou concordar. Porém - e esta é a questão principal - esse tipo de artista agora é mais valorizado que verdadeiros pensadores. A simples busca pela fama e dinheiro parece ser o motivo de sua ascensão. Claro que ainda existem verdadeiros mestres da forma e conteúdo surgindo, tal como Thom Yorke, digno de comparação a John Lennon, contudo a quantidade e popularidade de indivíduos como ele não são grandes o bastante para superar o muro de ignorância criada na cabeça dos consumidores do atual mercado da música.
Gostar ou não de uma música agora tornou-se uma forma de posicionamento político; melhor dizendo, tornou-se um divisor de águas entre os que têm qualquer desejo por agir politicamente e os que são politicamente castrados, cuja participação em causas sociais dá-se somente por puro capricho. E o primeiro grupo é cada vez mais escasso. Não vai-se resolver os problemas de um país com um punhado de pessoas aptas a promover mudanças: precisa-se do apoio de todas as classes sociais, do favelado que tem que roubar para comer até a filha do banqueiro, que sente algo no coração ao ver um sem-teto, mas não sabe o que é. Só que desde o trabalhador com dois empregos até a bela abonada há alienação, todos ouvem músicas sem qualquer conteúdo crítico ou estético que possa fazê-los pensar, sobre o que quer que seja.
Então músicos, o que estão esperando? Temos um país para mudar, e isso é de interesse de todos. Quebrem as correntes que os prendem às tiranas gravadoras e libertem-se. Ou então, caso não tenham coragem de sair de sua zona de conforto, abram espaço para aqueles que estão dispostos a renascer a música e o caráter crítico na população.