sábado, 11 de fevereiro de 2012

O Beco

Entrou no beco. Uma claridade sobrenatural era irradiada pela Lua. A pele já inumanamente branca daquela delicada figura angelical refletia a pálida luz, criando uma aura a sua volta que confirmava que se tratava de uma divindade. Sabia que não sairia daquele beco viva, e que aquele fora o último erro que cometeria em vida.

Seus belos olhos verdes procuravam desesperados por uma rota de fuga. Avistou, no fim da ruela sem saída, uma escada de incêndio. Precipitou-se em direção a ela, porém por mais que corresse, o seu portal de saída daquele inferno parecia não se aproximar. Não o alcançaria a tempo.

Tropeçou. Seu salto de camurça azul prendeu em um buraco do pavimento irregular. Ficou paralizada enquanto via seu assassino se aproximar lentamente. Era uma silhueta disforme que segurava um revólver reluzente. Ela se encolheu o máximo que pôde no chão frio e úmido do beco.

Não havia escapatória, ela iria morrer aquela noite, naquela viela, querendo ou não. Mas estranhamente essa ideia não a assustava. A morte sempre a provocou curiosidade, e agora que se encontrava face a face com ela, parecia-lhe sedutora. O fim trágico de uma bela jovem em um beco qualquer soava-lhe ironicamente poético. Cedeu.

O executor ergueu a arma. Mal sabia que estava prestes a criar uma mórbida obra de arte. Pronunciou o disparo. Estava feito, o corpo ainda quente da ruiva se esparramou pelo chão, e uma vez neste, pareceu que sempre pertenceu-o. Os cabelos escarlate e o forte batom cor-de-sangue nos voluptuosos lábios garantiriam-lhe vida eterna. Deu seu último suspiro em nome da poesia.

-Da escrivaninha

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