sábado, 11 de fevereiro de 2012

O Beco

Entrou no beco. Uma claridade sobrenatural era irradiada pela Lua. A pele já inumanamente branca daquela delicada figura angelical refletia a pálida luz, criando uma aura a sua volta que confirmava que se tratava de uma divindade. Sabia que não sairia daquele beco viva, e que aquele fora o último erro que cometeria em vida.

Seus belos olhos verdes procuravam desesperados por uma rota de fuga. Avistou, no fim da ruela sem saída, uma escada de incêndio. Precipitou-se em direção a ela, porém por mais que corresse, o seu portal de saída daquele inferno parecia não se aproximar. Não o alcançaria a tempo.

Tropeçou. Seu salto de camurça azul prendeu em um buraco do pavimento irregular. Ficou paralizada enquanto via seu assassino se aproximar lentamente. Era uma silhueta disforme que segurava um revólver reluzente. Ela se encolheu o máximo que pôde no chão frio e úmido do beco.

Não havia escapatória, ela iria morrer aquela noite, naquela viela, querendo ou não. Mas estranhamente essa ideia não a assustava. A morte sempre a provocou curiosidade, e agora que se encontrava face a face com ela, parecia-lhe sedutora. O fim trágico de uma bela jovem em um beco qualquer soava-lhe ironicamente poético. Cedeu.

O executor ergueu a arma. Mal sabia que estava prestes a criar uma mórbida obra de arte. Pronunciou o disparo. Estava feito, o corpo ainda quente da ruiva se esparramou pelo chão, e uma vez neste, pareceu que sempre pertenceu-o. Os cabelos escarlate e o forte batom cor-de-sangue nos voluptuosos lábios garantiriam-lhe vida eterna. Deu seu último suspiro em nome da poesia.

-Da escrivaninha

domingo, 5 de fevereiro de 2012

A importância dos estudos históricos

A natureza humana é imutável: voltando no tempo, percebemos que todas as sociedades tendem a buscar o poder e a temer do desconhecido. Uma vez que cada grupo fez diversos avanços em relação a esses aspectos, nada mais sábio do que coletar tal conhecimento para nossa própria evolução.

Não faltam imperadores, ditadores, reis e governantes inescrupulosos na história, assim como também existem inúmeras manifestações em nome da igualdade e da liberdade. Um dos objetivo do estudo do Homem no tempo, logo, é conscientizar a humanidade de que o autoritarismo é exclusivamente danoso à liberdade individual e, portanto, deve ser combatido, além de tentar buscar os pontos positivos e negativos dos diversos movimentos democráticos, assim permitindo que se possa dar à luz a sistemas cada vez melhores.

A história não tem somente uma atuação social, mas também religiosa, filosófica e científica. Levemos em consideração a questão da morte, por exemplo. Tal evento intriga e faz o Homem refletir a respeito desde o surgimento deste na Terra; temos à nossa disposição hoje registros da meditação sobre esse tema que datam na Era Paleolítica. Há muito conhecimento acumulado quanto a esse tópico. É ilógico, no mínimo, recomeçar tal estudo que acompanha a humanidade desde o berço. É aí que entra a história: com ela, podemos ter como ponto de partida o limite do conhecimento dos Antigos.

É por esses motivos que a história deve ser valorizada: porque, se não fosse por ela, o Homem ainda não teria saído das cavernas, redescobrindo o fogo a cada geração.

-Da escrivaninha

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Vida Supérflua

"Nossa, aquela mina tem uma puta bunda", "tô pensando em colocar 300 ml em cada peito", "peguei 5 na balada ontem!"... Quem nunca ouviu algo do gênero? Tais frases retratam a forma de raciocínio da sociedade atual. O exagero é uma forma de garantia da felicidade, sem se preocupar com a menosprezada importância do pequeno. Sem querer me aprofundar no tema, o ideal de dar maior valor à quantidade à qualidade surgiu da Revolução Industrial: artesãos especializados foram trocados por trabalhadores sob pressão que não dominam o ofício, produzindo mais que o antigo mestre, só que sem a individualidade característica da dedicação presente em seu trabalho. Claro que não demorou para que o consumidor passasse a acreditar que realmente valesse mais a pena comprar por um preço mais baixo, mesmo com a queda de qualidade... e menos ainda para que tal ideal infiltrasse nas mais diferentes situações.

Arrisco dizer que o Jovem médio não consegue sentir as delicadezas do amor. Digo até mais, ele é inibido de perceber as sutilezas que o rodeiam e que lhe proporcionariam uma felicidade sem precedentes. Quem desconhece o prazer de, ao andar pela rua, parar para contemplar uma florzinha que cresce corajosa e desafiadoramente do asfalto, ou até de reparar numa nuvem com uma forma inimaginável, beirando uma loucura romântica, não tem conhecimento da verdadeira beleza da vida, pois não compreendem os pequenos (e belos) detalhes que a compõe.

O mesmo vale para aquele que não consegue desfrutar de um amor de verão. O desejo carnal não tem relação com ter o maior número de parceiros possível, e sim com a sintonia das almas, tanto no plano terreno quanto espiritual; o desejo ardente de possuir um ao outro, seus corpos, seus sentimentos. Quando se está focado no objeto amado (não se trata apenas de amores), se preocupando com a qualidade e profundidade da interação entre os dois, sem se preocupar com quantas vezes vai acontecer, pode-se atingir níveis de prazer e contentamento enormes, sem contar que cada experiência é única - já que, nesse caso, há uma diferenciação entre os objetos desejados (voltando ao exemplo do romance, agora é levado em consideração as diferentes personalidades dos amantes, seus desejos, suas diferentes intensidades) - , o que enriquece a alma.

Prestar atenção nos detalhes da existência só pode fazer bem; cada um tem experiências únicas, o que resulta em diferentes formas de ver o mundo. E, por ter o belo costume de trocar experiências, o Homem vai cada vez se tornando mais variado e completo, pois absorve parte do visão de mundo do próximo. Mas claro que isso só é viável se as pessoas forem diferentes entre si e tiverem vivido situações diferentes, ao invés de terem seguido vidas parecidas e vazias de significado.

-Da escrivaninha


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Cigarro

Não fumo, nunca fumei e não pretendo fumar. Só por ser uma forma de autodestruição já não vale o uso, por qualquer que fosse a recompensa. Mas a prática é ainda mais estúpida quando se leva em consideração que o indivíduo está trocando sua vitalidade por uma pequena porção de relaxamento, proporcionado pela infame nicotina.

Não sou moralista, nunca fui. Acredito veemente que cada um deve seguir a sua vida a seu bel-prazer... desde que não afete negativamente a vida de terceiros. E é aí que mora o maior problema da discussão que envolve o fumo.

Antes de mais nada, acho importante que saibam porque estou escrevendo este texto: a vizinha de baixo, fumante religiosa, resolveu "tirar um minuto pra relaxar", impossibilitando que eu abra a janela para deixar o ar entrar, e isso em pleno verão. Eu pessoalmente odeio o cheiro que invade o meu quarto... Devo morrer de calor em nome do pequeno vício do próximo? Infelizmente a resposta é sim, uma vez que depende única e exclusivamente da noção dos outros de vida em sociedade.

Quando digo que devemos aceitar essa invasão por parte de um certo grupo de fumantes mal educados de um bem público que é o ar que todos dividimos, quero dizer que, primeiramente, que o projeto de lei referente ao fumo em determinados locais já foi o mais longe que poderia e deveria - uma vez que, se englobasse mais situações para a proibição, feriria os direitos do cidadão -  e, em segundo lugar, que não se deve causar um conflito, tal como uma briga, por causa de um maço de cigarro fumado no parapeito da janela, principalmente porque o assunto não é de tal ordem. Assim, a alternativa viável é um diálogo racional, sem  pressão (mas claro que nem sempre funciona, e para com esse tipo de gente é preciso ter paciência).

Mas é claro que nem todos os fumantes (e provavelmente também não é a maioria) são desrespeitosos em relação ao próximo, assim como uma boa porção de não-fumantes é ignorante a seu modo. Não é a prática (ou o vício, no caso de uma parcela) que faz a pessoa, e sim a forma como pratica. Procure ser uma pessoa respeitosa para com o próximo, fumando ou não; quem sabe um dia podemos alcançar uma sociedade melhor...?

-Da cama

Introdução ao Ensaios do Cotidiano

Boa tarde, caros leitores 


Quer dizer, pelo menos suponho que estejam lendo este post no período da tarde, já que ninguém acorda com disposição para ler experiências textuais de um amador, e ainda por cima iniciante.

Sendo esse o meu primeiro post, acredito que eu deva algumas explicações a vocês, já que vão acompanhar (espero) meus estudos.

Nos últimos tempos tenho me deparado com uma pergunta: o que vou fazer da vida?  E isso não só profissionalmente! Que estilo de vida seguirei, que hobbies, que amigos pretendo cultivar? Cheguei à conclusão de que a vida de jornalista é a que mais me convém. Só que cheguei num impasse. Apesar  de ter o espírito apaixonado do jornalista, ler bastante, ter capacidade de argumentação e escrever relativamente bem, não tenho tanta experiência quanto gostaria em relação a textos abertos, com um tema tirado da minha própria cabeça. Essa é a idéia principal desse blog, claro que sempre mantendo uma agradável informalidade e a paixão do ofício. Pretendo postar textos, ora de âmbito filosófico, sociológico, ora (mais raramente) contos curtos, semanalmente, e adoraria se vocês os comentassem, compartilhando desde críticas até impressões, sentimentos, sacações que eles possam despertar em vocês.
     

Um abraço!

-Da cama